sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A LIÇÃO DAS URNAS

A LIÇÃO DAS URNAS


A discreta e brilhante presidente da Justiça Eleitoral, Ministra Carmen Lúcia se disse preocupada com a elevada abstenção nesse segundo turno: um em cada quatro eleitores deixou de comparecer à urna, ou votou em branco ou anulou o voto. Não creio que essa deva ser uma preocupação da Justiça Eleitoral, mas sim dos políticos e suas siglas partidárias. Que tipos de candidatos estão oferecendo os partidos, que não refletem a expectativa de mais de 35 milhões de eleitores? No maior colégio eleitoral do país, de 8 milhões e 619 mil eleitores, 2 milhões 522 mil paulistanos deixaram que os demais escolhessem o prefeito - sugerindo que não queriam nem Serra nem Haddad.

E não se pode dizer que não tenha havido renovação. Muitas caras novas apareceram disputando prefeituras. Significativamente em São Paulo, um iniciante em eleição derrotou um veterano. O vitorioso agradeceu a Lula por ter sido o orientador de uma campanha em que teve o segundo poste vitorioso - como ironizou Haddad, lembrando que antes dele, Lula elegera Dilma. A recíproca é a constatação de que Serra foi atropelado por dois postes, em duas eleições consecutivas. FHC sugeriu renovação, depois da derrota de Serra. Um convite para Serra se aposentar e deixar menos pesados os vôos tucanos.


Se não foi a falta de renovação, teria sido a sombra do Mensalão, a nublar todos os políticos? Algumas correntes do PT já tratam de se livrar da roupa suja. O governador do Rio Grande, Tarso Genro, ex-presidente do PT, diz que o julgamento no Supremo tem seguido o devido processo legal, é limpo e insuspeito - já que oito dos onze ministros foram indicados pelo governo petista. E qualificou de politicamente incorretas as manifestações de correntes ligadas aos condenados que criticam o supremo tribunal do país e não aceitam as condenações. A ministra-chefe do gabinete civil da presidente Dilma, Gleisi Hoffmann, expressou a mesma idéia, ontem, certamente como portavoz de sua chefe.


Há muitas formas de os políticos e suas siglas se recuperarem perante a opinião pública. A primeira delas é cumprir as promessas de campanha. Mal terminou essa eleição municipal, eles já começam, com a cumplicidade ingênua de analistas políticos, a falar nas eleições de 2014, para os governos dos estados e presidência da República. Tratam de desviar o assunto principal, que deveria ser o cumprimento das promessas de campanha. Além disso, mal foram eleitos, alguns novos prefeitos já falam em ir a Brasília para reinvindicar com este ou aquele ministro, chutando para cima as suas responsabilidades. Não é hora de lavar as mãos nem de falar no futuro. O presente é hora de esperar que a posse chegue, para cobrar. Para que as promessas de campanha não fiquem no passado.

 
Alexandre Garcia é jornalista em Brasília e escreve semanalmente em Só Notícias

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